quinta-feira, 18 de abril de 2013


No mais recente livro de Carlos Moraes, o ótimo 'Agora Deus vai te pegar lá fora', há um trecho em que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major: "Por que você não é feliz como todo mundo?". A que ela responde mais ou menos assim: "Como o senhor ousa dizer que não sou feliz? O que o senhor sabe do que eu digo para o meu marido depois do amor? E do que eu sinto quando ouço Vivaldi? E do que eu rio com meu filho? E por que mundos viajo quando leio Murilo Mendes? A sua felicidade, que eu respeito, não é minha, major". E assim é. Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado. Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos. Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre sujeito. É nessas horas que junto as pontas dos cinco dedos da mão e sacudo-a no ar, feito uma italiana indignada: mas que sabemos nós da vida dos outros, catzo? Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo. O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa. O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes. Sentar no cinema, sozinha, para assistir o filme tão esperado. Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações. Os acordos secretos que temos com filhos, netos, amigos. A emoção provocada por uma frase de um livro. A felicidade de uma cura. E a infelicidade aceita como parte do jogo - ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades. O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio? Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas. Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter - juízes indefectíveis que somos da vida alheia -, mas é um atrevimento nos outorgarmos o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz. A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém. Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter-se sã. Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos.

(Martha Medeiros)

domingo, 14 de abril de 2013

A saudade nos devolve ao remetente...



Já dizia Fabrício Carpinejar! Que saudade do meu blog, do meu cantinho. Escrever sempre foi meu passatempo preferido (já devo ter dito isso em outras postagens) e eu realmente fico triste quando vejo os dias e meses se passando sem que meus pensamentos também tenham sido passados para algum lugar, seja para um amigo, para o papel ou modernamente falando, para o computador. Essa atividade funciona como uma "terapia as avessas" pra mim, onde eu sou a psicóloga e a paciente ao mesmo tempo. Escrever denota muito mais sobre nós do que podemos imaginar. Recebi alguns comentários de pessoas dizendo que conheciam um pouco mais de mim através dos meus textos e pensamentos soltos pelas redes sociais. Devo admitir, duas ferramentas me afastaram um pouco daqui: o facebook e o twitter. Uso o facebook com frequência para escrever sobre diversas coisas, o twitter eu já uso de uma forma mais criativa, procurando sempre brincar com as palavras e mostrar o lado cômico de algumas situações.
Escrever é tão mágico, que vicia! E vicia positivamente. Você passa a não se contentar com o que sabe, com o que lê. Busca sempre aprender palavras novas e reforçar o significado daquelas que você já conhece, busca engrandecer o seu acervo de pessoas que te inspiram, dentre outras coisas. Eu particularmente gosto de escritores ousados e que me deixam encantada (amo essa palavra!), o Carpinejar é um deles.
Se formos parar para pensar, não tem um dia que a escrita não esteja presente na nossa vida. Para escrever, você já não precisa ter necessariamente lápis e papel a mão, basta um teclado de computador ou uma tela sensível ao toque. Só não podemos acreditar em tudo o que a internet nos ensina, nem nos teclados inteligentes - nem tão inteligentes assim - que nos sugerem palavras mirabolantes. O melhor livro de cabeceira continua sendo o dicionário, não podemos esquecer dele.
Saciada a saudade, espero voltar para o meu cantinho em breve. Aqui onde a palavra limite não tem definição e onde as pontinhas dos meus dedos traduzem o que há de melhor em mim.
Nesse fim de tarde de chuva com sol em Belém do Pará, deixem o sol entrar! Muitos raios de sol para todos vocês.

Beijos